Se você frequenta a Upper há algum tempo, talvez não saiba quem é o Fabiano Bernardo de Freitas. Já o “Babu” é muito provável que você conheça!
Nascido e criado no Morro Azul, o hoje mestre Babu trabalha na Upper desde o seu início, há 20 anos. Mas essa história começa bem antes, em 1991, quando Babu começou a treinar Jiu-Jitsu com Dedé Pederneiras no antigo sobrado da Praia de Botafogo. “Eu fazia capoeira há uns três anos, mas uns amigos que já treinavam Jiu-Jitsu, o Mauricinho e o Alexandre das Dores, começaram a me influenciar, até que um dia comecei a treinar também”, recorda.
Babu tinha 17 anos e entregava jornais para pagar a academia e ajudar com as suas despesas. Apesar de garantir que nunca tenha faltado nada em casa, ele explica que queria ter um pouco mais de conforto. “Somos nove irmãos, cinco mulheres e quatro homens, e meus pais sempre conseguiram criar todo mundo. A gente tinha o básico, tinha tudo, mas se eu quisesse ter uma coisinha a mais, não tinha como. Não dava pra comprar um tênis todo ano, por exemplo”.
Durante bom tempo, a rotina de Babu foi entregar jornais de madrugada e seguir para o treino. Às vezes, acabava de fazer as entregas e ia direto para as competições. Quando foi graduado à faixa roxa, começou a ajudar Dedé puxando o treino da manhã. “O Dedé dava aula em todos os horários, mas começou a ter muitos compromissos e me pediu para ajudá-lo. Acabei assumindo os treinos da manhã e mais tarde, já como faixa marrom, comecei a dar aula para as crianças”.
Com a inauguração da Upper em 1998, Babu decidiu cursar Educação Física: fez três anos e meio de Licenciatura e depois mais um ano e meio para completar o Bacharelado e poder dar aula na academia. Foi o primeiro e único dos nove irmãos a fazer uma faculdade. “Na época era muito difícil estudar, nosso principal objetivo era manter uma certa índole. A gente via muita coisa errada, pessoas da nossa geração indo pro lado errado, até morrendo por se envolverem com o tráfico. Mas o principal eu tive, que foi a base da família e o esporte como complemento. Isso foi muito importante”, conclui. Além de Babu, o irmão mais novo, Marcelino Freitas, também vive do esporte. “O Marcelino vive na Austrália há sete anos dando aula de Jiu-Jitsu em uma academia. Lá ele é o melhor faixa preta do país”, afirma orgulhoso.
O proprietário da Upper, Dedé Pederneiras, não poupa elogios ao pupilo: “Além da honestidade e do bom caráter do Babu, eu destaco a inteligência e a determinação que ele tem. Um garoto do morro que conseguiu se formar faixa preta, professor de Educação Física, e hoje dá aula aqui… com aquela cara de quietinho, ele vai longe!”, aposta.
Atualmente, Babu dá aulas de Jiu-Jitsu na Upper de segunda a sexta-feira de manhã e às terças e quintas trabalha na musculação da Fisiofit. Segundas e quartas, está à frente do projeto ‘Tatame Legal’ no Morro Azul, onde dá aulas gratuitas de Jiu-Jitsu para cerca de 50 meninos e meninas da comunidade. “Comecei o projeto em dezembro de 2008 com umas placas de tatame velhas que eu tinha e uns quimonos doados por alunos e amigos. Depois, um faixa preta muito forte lá nos Estados Unidos, o Gustavo Dantas, pegou umas luvas autografadas pelo José Aldo e fez um leilão. Com esse dinheiro consegui montar a área de tatame que temos hoje”.
Outra curiosidade sobre Babu é seu envolvimento com o escotismo. Escoteiro quando criança, hoje ele é Chefe Escoteiro, uma espécie de irmão mais velho dos jovens escotistas. “Eu procuro dar conselhos e ensinar o que já aprendi. Tanto no escotismo quanto no Tatame Legal eu sinto que acabo servindo de inspiração para a garotada, então eu tento sempre direcionar, apoiar, cito a minha história e a do meu irmão como exemplos de que é possível atingir nossos objetivos sendo pessoas íntegras, de caráter. Pode ser que no começo seja difícil, mas tem que persistir. Faço questão de dizer que podemos melhorar a nossa vida de maneira correta, com trabalho e honestidade. Coisas positivas atraem coisas positivas. E se você tiver a sorte que eu tive de poder contar com a ajuda de amigos e pessoas especiais como o Dedé, aí é que ninguém te segura”.
Questionado sobre a importância de Dedé em sua vida, Babu resume: “Eu tenho ele como um amigo e procuro ser com os meus alunos do mesmo jeito que ele sempre foi comigo e com todos os outros alunos dele: um cara simples e acessível, que procurava compreender as necessidades de cada um”.
Uma mensagem final, Babu? “Sim: parabéns pelos 20 anos da Upper, Dedé, e obrigado por tudo”.
(Por Karen Terahata)